|

Reinando D. Sancho II,
aportaram ao pais uns cavaleiros da Ordem de Malta, que se faziam
acompanhar de padres carmelitas. E como esses cavaleiros eram já
senhores de algumas vilas e lugares do reino, em cujo número se contava
a vila de Moura, fundaram nela em 1250, reinando D. Afonso III, ou
depois de 1251 como indicam alguns autores, um convento para os
religiosos dessa ordem cedendo-lhes para tal, umas casa que tinham
edificado junto duma devota ermida da invocação de Nossa Senhora da Luz.
Devemos dizer que os
hospitalários da Ordem de S. João de Jerusalém mantinham com os
carmelitas estreita confraternidade na Terra Santa e o seu Padroeiro,
S. João, é incluído entre os adeptos dos ermitas fundadores da Ordem do
Carmo.
Ante as perseguições
infligidas pelos sarracenos aos carmelitas que chegaram ao extremo de
lhes destruírem o próprio convento do Monte Carmelo, tomaram eles a
resolução de emigrar para a Europa. Em
1238, estabeleceram-se em
Chipre, Messina, Paris, levados por S. Luís, rei de França e em
Aylesford, na Inglaterra.
Coube pois a Moura a
honra de ter o primeiro convento carmelita que se estabeleceu na
Península.
Isto acontecia,
portanto, a não muitos anos da sua reconquista efectuada pouco depois de
1191, visto a primeira conquista pelos exércitos cristãos ter-se dado em
1166, no
reinado de D. Afonso Henriques, com a intervenção daqueles célebres
cavaleiros de nome Álvaro e Pedro Rodrigues, cujas cinzas se guardam num
túmulo manuelino existente na arruinada Igreja do convento das
dominicanas do Castelo, mandado construir pela sua primeira abadessa,
Dona Ângela de Moura, da família dos mesmos cavaleiros, nas próprias
casas de sua residência.
Vem a propósito referir
- como hipótese - que a primeira conquista cristã, cuja data se ignora,
talvez se tivesse dado no dia litúrgico do santo que se vê representado
num fresco, quase destruído, existente na capela onde se encontra o
túmulo dos primeiros conquistadores de Moura.
A figura parece a do
apóstolo S. Bartolomeu e, sendo assim, é provável que a conquista se
tivesse verificado em 24 de Agosto, tempo estival próprio para
conquistas e fossados.
A reforçar esta nossa
suposição, temos o facto de quase todas as conquistas feitas pelos
cristãos aos mouros serem referenciadas aos santos do dia,
nomeadamente, a de Lisboa no dia de S. Crispim e a de Tavira no dia de
S. Barnabé,
santo que teve capela própria na igreja de Santa Maria do Castelo dessa
cidade, do lado da Epístola, junto do jazigo onde se guardam os ossos
dos sete cavaleiros cristãos mortos pelos mouros no sítio de Antas,
causa imediata dessa conquista por D. Paio Peres Correia, esforçado
cavaleiro de Santiago.
As crónicas cristãs
mouras dessa época nada nos dizem sobre o assunto bem como acerca das
datas da conquista de muitas outras terras. A própria
Adquira Assania
Crónica Anónima dos Merinidas, publicada em 1921, em Argel, por Ben
Cheneb, na qual depositávamos grandes esperanças, nada também nos diz,
conforme informação do nosso prezado amigo e distinto arabista Dr. José
Garcia Domingues, que teve o ensejo de a consultar numa visita de estudo
que fez recentemente a Madrid.
D. Luís Caetano de
Lima, clérigo regular e membro da Academia Real de História Portuguesa,
escrevendo sobre a vila de Moura refere-se à Ordem do Hospital ou de
Malta e à
questão a que a mesma deu lugar, numa época é certo posterior à fundação
do Convento do Carmo, mas ainda no século XIII. Diz esse autor que o
«senhorio» de Moura, e de algumas outras Vilas do Alentejo chegou a ser
ocasião de rompimento entre El-Rei D. Dinis de Portugal, e El-Rei D.
Fernando o IV de Castela, pelos anos de 1295 porque havendo sido
conquistadas por Príncipes Portugueses e estando na demarcação dos seus
domínios, andavam usurpadas a esta Coroa desde o tempo deI-Rei D. Afonso
o Sábio, e unidas à Ordem do Hospital daquele Reino.
Tanto Moura como Serpa,
Aroche, Aracena, Aiamonte e o Algarve foram terras que durante muitos
anos estiveram em litígio, apesar de conquistadas pelos reis
portugueses. O rei D. Afonso III exercia sobre elas direitos de senhorio
político, mas coube ao sogro Afonso X de Castela, o usufruto. O Algarve,
deu-o Afonso X de Castela ao neto D. Dinis, ressalvando porém alguns
direitos, dos quais abdicou pouco depois de 1264 e a delimitação do Caia
para o sul, na qual estavam compreendidas Moura, Serpa, Aroche, Aracena
e Aiamonte, só foi realizada definitivamente mais tarde, firmando-se em
12 de Setembro de 1297, pelo chamado
tratado de AIcanizes
um
acordo, pelo qual o nosso país desistiu de Aroche, Aracena, Aiamonte e
outras terras, e recebeu em troca Campo Maior, Olivença e os territórios
vizinhos.
Quando em 1295 se deu o
rompimento entre D. Dinis e Afonso IV de Castela, que terminou pelo
tratado
de Ciudad Rodrigo já D.
Dinis estava de posse da Vila de Moura, pelo que a cercou de muralhas e
lhe deu foral, que foi o terceiro outorgado após a sua conquista aos
mouros, pois o primeiro tinha-lhe sido dado em 1171, por D. Afonso
Henriques e o segundo em 1217, por D. Afonso II.
Por outro lado, tendo
sido dado o senhorio de Moura por D. Afonso Henriques à Ordem Militar de
Aviz, dependente dos grão-mestres de Ordem de Calatrava, com sede em
Castela, semelhante situação foi causa de atritos e lutas que só
desapareceram no dia em que essa ordem deixou de depender duma nação
estrangeira.
Embora pareça
paradoxal, dessa série de atritos persistiu uma célebre questão entre
Moura e Aroche, conhecida pela questão das
Terras da Contenda,
só completamente liquidada pela Convenção de Madrid, de 27 de
Maio de 1893, reinando em Portugal D. Carlos I e em Espanha Afonso XIII,
não cabendo no âmbito deste estudo toda a extensa série de episódios a
que as ricas terras da margem esquerda do Guadiana deram lugar, desde a
sua conquista aos mouros.
Voltar A
História
|
|